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Mpungos
Os Mpungos (ou Mpungu, no singular) são divindades ou forças espirituais da cosmovisão bantu, especialmente nas tradições religiosas de origem Congo-Angolana, como a Regla de Palo (Palo Monte ou Palo Mayombe), e nas práticas espirituais do Reino do Kongo. Eles representam manifestações específicas da força criadora suprema chamada Nzambi Mpungu ou Nsambia Mpungo, que é o Deus supremo, criador de tudo.
Origem e criação dos Mpungos
Na visão cosmogônica bantu:
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Nzambi Mpungu (ou Nsambia) é o Deus criador, o ser supremo, a fonte de toda energia e existência.
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Após criar o universo, Nzambi emanou forças espirituais que regem aspectos distintos da natureza e da vida – esses são os Mpungos.
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Cada Mpungo representa uma energia cósmica específica, com domínio sobre um aspecto da realidade: fogo, água, morte, guerra, fertilidade, cura, etc.
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Esses seres espirituais são comparáveis aos orixás no candomblé ou aos loas no vodu, mas com sua própria estrutura e filosofia.
Função dos Mpungos
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Governar as forças da natureza e da vida: Cada Mpungo está ligado a elementos naturais (como água, fogo, vento) ou princípios existenciais (morte, cura, justiça, conhecimento).
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Ajudar os humanos: Servem como intermediários entre o humano e Nzambi, e são invocados para proteção, cura, sabedoria, guerra espiritual, vingança etc.
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Manter o equilíbrio espiritual e natural: São guardiões das leis espirituais e ajudam a manter a ordem no mundo visível e invisível.
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Guiar os iniciados: No contexto religioso, especialmente em Palo e cultos afrobantos, os Mpungos orientam os Tata (sacerdotes).
Kimpugulu, O Santoral Congo
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Lucero Mundo, também conhecido como Papa Legba, Elegua, Eshu: Considerado o principal mensageiro de Deus, ele é o comunicador entre os humanos e os outros Mpungos, é ele que transmite toda mensagem, levando os pedidos e trazendo as respostas, ele é o que remove obstáculos e oferece oportunidade.
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Sarabanda, também conhecido como Ogum, Ogou: Encarregado de prover chuva e sustento, Sarabanda é frequentemente associado à misericórdia de Deus para com Suas criaturas, também encarregado de fornecer emprego, proteção, profecia, magia, cura de doenças sanguíneas.
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Siete Rayos, Também conhecido como Chango, Xamgô, Chángò, Nsasi: Conhecido como o guardião da Village ya Nzambe (Aldeia de Deus), Siete Rayos é responsável por cuidar das portas do Céu e receber as almas dos fiéis, assim como fornecer poder, derrotar inimigos, trazer vitória e sensualidade.
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Ma Kalunga, também conhecida como Yemanjá, Baluandé, Ma Kalunga, Madre de Água: Ma Kalunga é a Deusa da Criação e muitas vezes é representada como uma sereia. Ela está associada à lua, ao oceano e aos mistérios femininos. Como tal, ela governa o lar e assuntos relacionados às mulheres, incluindo parto, concepção, segurança infantil, amor e cura. Extremamente compassiva e misericordiosa, Ma Kalunga controla o tempo dos sonhos, supervisiona a Lua, segredos profundos, sabedoria antiga, água salgada, conchas do mar e o inconsciente coletivo.
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Mama Chola, também conhecida como Oshum, Chola Wengue, Chola Nwengue, Siete Ríos: Mama Chola é uma Mpungo (manifestação espiritual) do amor, intimidade, beleza, riqueza e diplomacia. Segundo os anciãos Kimbandeiros, Mama Chola é a "mãe invisível presente em toda reunião", porque Mama Chola é a compreensão iorubá das forças cosmológicas da água, umidade e atração. Portanto, ela é onipresente e onipotente. Seu poder é representado em um texto iorubá que nos lembra que "ninguém é inimigo da água" e, portanto, todos precisam e devem honrar, respeitar e reverenciar Mama Chola.
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Centelha Ndoki, também conhecida como Oyá, Kariempembe, Mariwanga, Centella: A guardiã do Inferno. Ele supervisiona os Mpungos que punem as almas dos condenados, Centelha Ndoki é a mãe das disfarces e usa muitas máscaras. Ela é revolucionária, eficiente, determinada e indispensável em situações de emergência. Centelha Ndoki é a Mpungo da transformação. Ela está associada ao búfalo e é conhecida por usar feitiços e magia como uma das "Grandes Anciãs da Noite (Bruxas)".
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Tiembla-Tierra, Também conhecido como Obatalá, Mama Kengue: Tiembla-Tierra é o Deus criador, símbolo de paz e pureza, Pai da humanidade e mensageiro de Olofi, o governante do Mundo. Sua cor é branca, contendo todas as cores do arco-íris. Ele rege a mente e o intelecto, o equilíbrio cósmico, o masculino e o feminino. Tiembla-Tierra é comparado à padroeira Nossa Senhora da Misericórdia.
Perspectivas Teológicas e Espirituais sobre os Mpungos
A Obediência Sagrada dos Mpungos
Os Mpungos, em sua obediência pura e adoração contínua a Nzambi (Deus), refletem a grandeza e a unicidade do Criador – Bomoko ya Nzambi. São manifestações vivas da ordem e da harmonia divina estabelecidas no universo.
Ao cumprirem suas tarefas sem desvio ou falha, os Mpungos personificam a perfeição da Criação. Esta fidelidade inquebrantável contrasta com o livre-arbítrio concedido aos seres humanos e aos ancestrais, que podem desobedecer e cair em pecado.
Função Intermediária e Sagrada
Os Mpungos atuam como pontes espirituais entre Deus e a humanidade. São eles que transmitem a vontade divina, orientam, protegem os fiéis e executam as leis cósmicas do Criador.
Sua função intermediária evidencia a misericórdia de Nzambi pela criação, facilitando uma ligação espiritual entre os Kimbandeiros e o Divino. Reconhecer os Mpungos é reconhecer a proximidade constante de Deus em todas as esferas da vida.
Modelos de Losambo e Kosalela Nzambi
Os Mpungos são exemplos supremos de:
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Losambo – adoração devocional contínua;
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Kosalela Nzambi – servidão sagrada ao Criador.
Eles servem a Nzambi com absoluta submissão e dedicação, tornando-se modelos ideais para os Kimbandeiros, que são convidados a lembrar-se constantemente de Deus (Kokanisa Nzambi) e a cultivar a obediência em suas vidas diárias.
A Criação como Louvor ao Criador
A existência dos Mpungos confirma que toda a Criação participa na glorificação de Nzambi. Estudar e conhecer os Mpungos é um caminho para desenvolver humildade e consciência espiritual.
Ao compreender a vastidão da criação de Nzambi e o papel sagrado dos Mpungos, os devotos são lembrados de sua pequenez e da importância de viverem em dependência do Criador.
Envizib – A Realidade Invisível
A crença nos Mpungos é parte da crença no Envizib (o Invisível) – um dos pilares da fé Malê. Aceitar sua existência exige fé na sabedoria divina, além dos limites dos sentidos físicos.
Isso fortalece a espiritualidade do Kimbandeiro, ampliando sua percepção do mundo além do material e do visível, reconhecendo o poder e a realidade do sobrenatural.
Adoração Direcionada a Deus
Mesmo com toda a reverência, os Mpungos não são adorados. Toda adoração pertence exclusivamente a Nzambi. Os Mpungos são instrumentos e canais de comunicação espiritual, necessários porque o ser humano, limitado em corpo e percepção, não pode acessar diretamente a essência pura de Nzambi.
"Nzambi ke kala na nitu – Tata ye ke monisa nzila na ba Mpungu."
(Deus está além do corpo – o Pai mostra o caminho através dos Mpungos.)